Não se pode ser católico e espírita ao mesmo tempo

As almas do purgatório e o espiritismo: uma contradição irreconciliável

Muitos católicos confundem a legítima devoção às almas do purgatório com práticas condenadas pela Igreja, como o espiritismo e a comunicação direta com os mortos. 

No entanto, a doutrina católica ensina que há uma diferença fundamental entre interceder pelos falecidos e tentar invocá-los. A Igreja sempre condenou o espiritismo como um erro grave que compromete a fé e expõe os praticantes a sérios perigos espirituais.

A distinção entre os mortos segundo a tradição católica

A tradição católica reconhece três tipos de falecidos que, por disposição divina, podem manifestar-se aos vivos: as almas do purgatório, os eleitos e os réprobos

No entanto, nem todos possuem a mesma liberdade para retornar ao mundo dos vivos.

As almas do purgatório são as que mais frequentemente se manifestam, pois dependem das orações dos vivos para aliviarem suas dores e alcançarem a bem-aventurança celestial. 

A Igreja ensina que tais orações, conhecidas como sufrágios, incluem missas, penitências e esmolas feitas em favor das almas que ainda não chegaram ao céu.

Os eleitos, já salvos, raramente aparecem, exceto em casos extraordinários, como revelações santas

Já os réprobos, condenados eternamente, não podem retornar por vontade própria, mas podem ser usados pelos demônios em enganos e assombrações de caráter maligno.

Os “revenants” e a cultura popular

Na segunda metade do século XIX, três concepções principais sobre os mortos coexistiam: 

  • os revenants da cultura popular, que retornavam como espectros inquietos; 
  • as almas do purgatório, conforme a doutrina católica; 
  • e os “espíritos” evocados pelo espiritismo, movimento em ascensão na época.

O termo revenant, de origem francesa, significa “aquele que retorna”. Eram figuras temidas em diversas culturas, associadas a ruídos noturnos, aparições e eventos inexplicáveis. 

Sua crença era particularmente forte na França, como destacou o antropólogo Arnold Van Gennep. Um exemplo emblemático ocorreu no santuário de Montligeon, onde uma menina testemunhou o espírito de seu pai falecido envolto em chamas, clamando por orações e por uma missa. 

Após a celebração da missa, a aparição cessou, reafirmando a importância dos sufrágios pelas almas do purgatório.

O ensinamento da Igreja sobre aparições

Diante dessas crenças, a Igreja buscou catequizar os fiéis, transformando a figura dos revenants na de almas do purgatório necessitadas de sufrágios. 

São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, ensinou que uma alma separada do corpo não pode aparecer sem uma permissão especial de Deus (dispensatio Dei), estabelecendo um critério teológico para distinguir manifestações autênticas de ilusões ou enganos diabólicos.

A condenação do espiritismo pela Igreja

A Igreja sempre ensinou que a comunicação com os mortos, quando não permitida por Deus, está no âmbito da necromancia, um pecado grave condenado pelas Escrituras (Deuteronômio 18, 10-12). 

O espiritismo, surgido no século XIX com Allan Kardec, apresentou-se como uma doutrina que promovia a interação com os falecidos como uma prática sistemática, desviando muitos católicos da reta fé.

O Papa Leão XIII e o Papa Pio X condenaram explicitamente essas práticas. 

Em 1917, o Código de Direito Canônico (cânon 1258) declarou a participação em sessões espíritas como pecado grave, e em 1949, o Santo Ofício reafirmou a condenação, alertando para os perigos espirituais dessas práticas. 

Quem participa ativamente de sessões espíritas ou tenta comunicação direta com os mortos incorre em pena de excomunhão automática (latae sententiae).

O espiritismo e a confusão com a fé católica

O avanço do espiritismo no século XIX provocou uma reação firme dos teólogos católicos. O padre Sanguinet enfatizou que as aparições de almas salvas só ocorrem por exceção e com um motivo justificado, e que Deus não realizaria milagres apenas para satisfazer curiosidades vãs

O jornal L’Ami du Clergé, em 1900, alertava que essa “nova religião” buscava se estabelecer e se mesclar com o catolicismo, levando alguns fiéis a associarem erroneamente a evocação dos mortos com a prática cristã de sufrágios.

A distinção entre piedade legítima e erro doutrinário

Dessa forma, a tradição católica procurou manter uma linha clara entre a piedade legítima em relação às almas do purgatório e as doutrinas espíritas

A intercessão pelos falecidos é um pilar da fé católica, mas a busca por comunicação direta com os mortos foi considerada um perigo espiritual, sendo proibida sob pena de excomunhão.

Ao longo dos séculos, a Igreja manteve sua postura de prudência e discernimento sobre esse mistério do além. 

O fiel católico, ciente dessa distinção, deve manter sua esperança na misericórdia divina e praticar orações e sufrágios pelas almas do purgatório, sem jamais buscar a comunicação direta com os mortos, pois “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo” (Hebreus 9, 27).

(fonte: Le crépuscule du purgatoire – Guillaume Cuchet)

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