
Poucas palavras em Fátima soam tão fortes — e tão desconcertantes — quanto aquelas em que Nossa Senhora, em resposta aos pedidos de cura e conversão feitos pelos pastorinhos, responde: “Alguns sim, outros não”.
Dita com ternura, mas com firmeza, essa resposta corta como uma espada e ilumina como um relâmpago.
Revela que a vontade de Deus nem sempre corresponde aos nossos desejos. E que, por vezes, o amor do Céu se manifesta justamente nos “nãos” que recebemos.
Esses “nãos” não são abandono. Pelo contrário, são expressão de um amor que enxerga a eternidade.
São alertas de uma Mãe que quer salvar almas, não apenas aliviar sofrimentos passageiros. Como guardiã das graças, Nossa Senhora aponta o caminho da cruz, da conversão e da salvação. E, com ela, a glória eterna.
A lição do Evangelho
Para compreendermos melhor esse ponto, é oportuno meditarmos sobre o Evangelho segundo São João, no trecho em que Maria unge os pés de Jesus:
“Então Maria pegou trezentos gramas de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia com o perfume do bálsamo. […]
“Jesus, porém, disse: ‘Deixa-a. Ela fez isso em vista do dia da minha sepultura. Pobres, sempre os tendes convosco, enquanto a mim nem sempre me tendes.’” (Jo 12,3-8)
Estas palavras do Divino Salvador soam com uma solenidade tremenda nos ouvidos dos fiéis. Nosso Senhor, com divina autoridade, mostra que nem tudo deve ser dado aos pobres e que certas coisas são reservadas para Deus.
Ele nos ensina que existe uma hierarquia nas necessidades e que, acima da necessidade material, está a adoração, o culto, a entrega generosa a Deus.
A figura de Maria, irmã de Lázaro, que se desfaz do perfume mais caro para honrar Jesus, evoca o espírito do sacrifício absoluto, da entrega sem medida.
Isso contrasta com a mentalidade utilitarista de Judas, que via tudo sob a ótica da eficiência e da utilidade imediata. Esse contraste permanece até hoje.
Quantas vezes a piedade é desprezada por parecer “inútil” aos olhos do mundo? Mas é esse gesto aparentemente inútil que exala o bom odor de Cristo.
Aqui já começamos a entender a diferença entre os “sim” e os “não” do Céu. O que é valioso para Deus não é necessariamente o que o mundo valoriza.
As aparições e os “nãos” de Nossa Senhora
Na segunda aparição, em junho de 1917, Lucia pede pela cura de um doente.
Nossa Senhora responde: “Se se converter, será curado durante o ano.”
Na sexta aparição, Lucia volta a interceder: “Tinha muitas coisas para Lhe pedir: se curava alguns doentes e se convertia alguns pecadores.”
Nossa Senhora responde com clareza: “Uns, sim; outros, não. É preciso que se emendem, que peçam perdão dos seus pecados.”
E ao dizer isso, assume uma expressão de tristeza: “Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido.”
A resposta da Mãe de Deus não é, portanto, arbitrária. Ela está inserida na lógica da misericórdia divina, que sempre caminha de mãos dadas com a justiça e com a necessidade de conversão.
Se muitos querem milagres sem mudança de vida, esquecem-se de que o verdadeiro milagre começa na alma: é a conversão.
Fátima, nesse sentido, é uma escola de realismo sobrenatural. Não há promessas fáceis. Tudo é condicionado à correspondência da alma. Tudo é chamado à conversão.
O caso do filho paralítico de Maria Carreira
Poucos conhecem o fato, relatado por vários estudiosos da mensagem de Fátima: Lúcia intercede pela cura do filho paralítico de uma mulher piedosa chamada Maria Carreira.
A resposta da Santíssima Virgem foi: “Não o curarei, nem o tirarei da sua pobreza. Mas que reze todos os dias o terço com a família. Darei a ele os meios para viver.”
Este fato encerra uma das maiores lições espirituais da mensagem de Fátima. Nem toda pobreza deve ser suprimida, nem toda doença deve ser curada.
Nem tudo o que pedimos nos é concedido nesta vida. Mas o que sempre nos é dado é o meio de salvação: a oração, a penitência, a submissão à vontade divina.
É comovedor ver que, mesmo sem conceder a cura, a Mãe de Deus indica o caminho: o Santo Rosário em família.
É por isso que tantos fiéis recorrem à Estampa de Fátima para manter viva essa presença materna em seus lares. Um pequeno gesto de fé que transforma o ambiente e fortalece a oração. Se você ainda não tem a sua, ligue agora para 0800 878 2256 (Brasil) ou 707 502 677 (Portugal) e peça a Estampa da Virgem de Fátima já abençoada.
O remédio da oração não cura o corpo, mas fortalece a alma. E os meios para viver, que Ela promete, são os sustentos providenciais para que aquela alma, mesmo na limitação, glorifique a Deus.
Os “nãos” de Deus e a liberdade humana
Há um aspecto ainda mais profundo nos “nãos” do Céu: a liberdade humana. Deus respeita profundamente a liberdade das almas.
O sim de Nossa Senhora à Encarnação foi livre. O sim de cada santo à vocação foi livre. Mas o não do pecador à graça também é livre. E trágico.
Por isso, quando a Virgem diz “não” a certos pedidos, pode ser também porque prevê que a alma não cooperará com a graça.
Seria, então, um dom em vão. Um desperdício. Como o lançar pérolas aos porcos (cf. Mt 7,6).
E quantas vezes esse “não” é a última tentativa do Céu de fazer a alma refletir? De sacudi-la com um sofrimento, de despertá-la com uma recusa?
O Céu não é indiferente. Ele é, sim, cirurgião: corta para salvar.
Conclusão: a Mãe que diz não para salvar
Fátima não é apenas uma lembrança devocional do passado. É uma escola viva de espiritualidade. Uma escola de heroísmo, de sacrifício, de aceitação dos planos de Deus.
Quando Nossa Senhora diz “A alguns, sim; a outros, não”, está a repetir, como em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
Se Ele diz sim, bendito seja. Se diz não, também bendito seja. Porque os seus caminhos não são os nossos caminhos, mas são sempre caminhos de amor.
Nós, que militamos sob o estandarte do Imaculado Coração de Maria, precisamos formar nossas almas nessa escola sublime.
Saber acolher os “nãos” do Céu com gratidão. Saber viver a pobreza com distanciamento. Saber sofrer com resignação. Saber combater com confiança.
Que este ensinamento de Fátima ressoe em nossas consciências como um chamado à maturidade espiritual.
Que saibamos dizer com os santos: “Faça-se a vossa vontade, assim na terra como no Céu.”
E se essa mensagem tocou o seu coração, talvez esteja na hora de dar um passo a mais: ser uma voz que ecoa o apelo de Fátima nos dias de hoje. Ligue para 0800 878 2256 (Brasil) ou 707 502 677 (Portugal) e inscreva-se no grupo Missionários de Fátima. Porque a Mãe precisa de filhos dispostos a levar Sua mensagem adiante.
Que cada “não” aceito se converta em um degrau rumo ao Céu.
E que, por fim, se cumpra também em nós a promessa da Virgem Santíssima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.”




