
Voltemos ao nosso assunto, e consideremos os felizes efeitos que produz em nós a leitura dos bons livros.
Primeiramente, se a leitura dos maus livros, como dissemos, nos enche de sentimentos mundanos e perniciosos, a dos bons livros, ao contrário, nos sugere bons pensamentos e santos desejos.
Quando uma religiosa passa parte considerável do dia a ler livros curiosos e profanos, que lhe abarrotam o espírito com uma multidão de ideias mundanas e afetos terrenos, como pode recolher-se, ocupar-se de pensamentos piedosos, conservar-se na presença de Deus e produzir frequentes atos de virtudes?
O moinho mói o grão que recebe.
Se recebe mau grão, como poderá dar boa farinha?

Depois de ter empregado um bom espaço de tempo em ler algum livro curioso, vá uma religiosa à oração, à comunhão;
Em vez de pensar em Deus e de fazer atos de amor e de confiança, estará toda distraída;
Por que a lembrança de todas as vaidades que leu, se apresentará ao seu espírito.
Ao contrário, aquela que nutre seu espírito com coisas edificantes, tais como as máximas espirituais e os exemplos dos santos, não só no tempo da oração, mas ainda fora dela, será sempre acompanhada de santos pensamentos e se conservará quase sempre unida a Deus.
S. Bernardo nos faz compreender bem esta verdade, por uma outra comparação, ao explicar as palavras do divino Mestre: Procurai e achareis.
Procurai pela leitura dos livros de piedade, diz ele, e achareis na meditação, o que houverdes buscado;
Porque a leitura nos põe na boca a nutrição espiritual, que digerimos depois na meditação.
Em segundo lugar, a alma que se nutre de santos pensamentos na leitura, tem mais força para repelir as tentações interiores.
Eis o conselho que dava S. Jerônimo à Salvina, sua discípula:
Procura ter sempre à mão algum bom livro, afim de que te sirva de escudo para te defender dos maus pensamentos.
Em terceiro lugar, a leitura espiritual nos ajuda a descobrir as máculas de nossa alma e a fazê-las desaparecer.
O mesmo S. Jerônimo em sua carta a Demetriades, lhe recomenda o uso da leitura espiritual como de um espelho.
Queria dizer que, assim como o espelho nos mostra as manchas que temos no rosto, assim os bons livros nos fazem conhecer as faltas que mancham a nossa consciência.

Falando da leitura espiritual, S. Gregório diz:
Nela podemos contar nossas perdas e nossos adiantamentos de espírito: nela observamos o atraso ou proveito que temos adquirido no caminho de Deus.
Em quarto lugar, na leitura dos livros santos, recebem-se muitas luzes e inspirações divinas.
Dizia S. Jerônimo que na oração nos falamos a Deus, mas na leitura é Deus que nos fala.
O mesmo dizia Sto. Ambrósio:
Quando oramos, Deus escuta as nossas preces; mas quando lemos, escutamos a voz de Deus.
Como já vos disse, não podemos ter sempre, perto de nós, nosso padre espiritual, nem ouvir os santos pregadores que nos dirigem e nos comunicam as luzes necessárias para caminhar bem no caminho do Senhor: Os bons livros suprem suas instruções.
Sto. Agostinho diz que eles são outras tantas cartas que o Senhor em sua bondade nos envia, para nos advertir dos perigos que corremos, nos ensinar os caminhos da salvação, nos animar a sofrer as adversidades, nos esclarecer e inflamar de seu divino amor.
Quem, pois deseja salvar-se e adquirir o amor divino, deve ter frequentemente estas cartas do paraíso.
[Continua…]
Fonte: A verdadeira esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo de Santo Afonso
PS: Mesmo sendo um livro primariamente para religiosas, os avisos contidos nele servem para todas as almas que buscam a perfeição, independente do estado de vida.
***
***